Tuesday, February 21, 2017

Rules Don't Apply

Quase vinte anos depois do seu último filme como realizador, Warren Beatty surgia com um novo filme, que também marcava o seu regresso como protagonista. Tratando-se de um realizador oscarizado e pelo intervalo de tempo a expetativa em torno do seu novo filme era elevado, surgindo a dúvida se seria mais parecido com os seus trabalhos nos tempos aureos ou algo mais parecido com o lado mais comediante de Bullworth. Após as primeiras exibições percebeu-se que o filme não ia ser propriamente um sucesso critico, com avaliações muito dispares e pouco coerentes. Perante isto um dos acontecimentos e possíveis candidato aos oscares desaparecia e pior que isso lançava o filme para uma carreira comercial quase inexistente.
Eu até penso que o filme tem um excelente início na forma como aborda a duo de protagonistas e na forma como eles encaixam, traduzindo simplicidade romantica, quimica num clima de hollywood tradicional, o que me fez pensar que o filme se tratava de uma ode ao romantismo tradicional que fez a delicia dos espetadores durante anos. Contudo rapidamente Beatty muda o filme para aquilo que fez nos seus últimos filmes, colocar o mesmo ao ser serviço enquanto actor, numa decisão egocentrica que compromete o filme todo. Se o lado escuro e misterioso do personagem ainda funciona principalmente porque não vemos o actor no ecrã há cerca de vinte anos, depois quando entra nas loucuras e demencia o filme perde-se por completo em sequências sem grande ligação emaranhando um argumento que pese embora simples ia no bom caminho.
E este desaproveitar da relação amorosa central, acaba por se notar ainda mais com um climax interessante onde percebemos que o casal funciona, e faz-nos olhar para o filme pensando, porque é que o filme complicou numa especie de biografia da fase final de Hughes, quando já um filme tinha tratado dessa vertente. A mim parece-me que o objetivo seria tentar uma nomeação para beatty, desaproveitando claramente o talento dos mais novos.
Mesmo assim temos alguns bons momentos, principalmente de realização na forma como consegue criar o mistério em torno da personagem com os planos de pouca luz, um inicio interessante em termos de dinamica amorosa, mas posteriormente um filme demasiado repititivo, que poderá ser um acto falhado de um realizador que não sabemos se terá outra oportunidade para se despedir da realização.
O filme fala de uma aspirante a atriz que se apaixona pelo motorista de Howard Hughes, contudo a sua ambição acaba por a conduzir a encontros com o milionário e que resulta num triangulo amoroso não assumido, já que existem conflitos internos em cada um dos vértices que acaba por condicionar os encontros entre ambos.
No argumento penso que o filme ganharia se fosse mais contextual relativamente a Hughes e mais funcional relativamente à relação amorosa. Poderia ser mais simples e isso acabar por lhe tirar alguma dimensão, mas as escolhas no filme e principalmente a forma como as mesmas acabam por ser feitas acabam também por não dar essa dimensão.
Eu confesso que sempre gostei mais de Beatty como realizador do que como actor, aqui volto a achar que este é o seu melhor papel. Inteligente na forma como cria conceito à sua personagem com o mistério e suspense relativo à sua aparição, jogando também com o facto de estar fora da interpretação há diversos anos, mas mais que isso a forma com que consegue homenagear o cinema tradicional daquela época com rigor.
No cast, penso que Collins está a crescer como atriz, enchendo mais o ecrã, sem ser a menina teenager que já foi, Ehrenreich foi uma das surpresas do ano, mais no seu excelente papel em Hail Cesar, do que propriamente nesta composição mais simples. Beatty cai novamente no erro de tentar mostrar nos seus personagens uma versatilidade que nunca teve, fazendo com que o resultado final não tenha grande sentido.

O melhor - Alguns laivos de realização de primeiro plano.

O pior - Beatty tentar elevar a sua interpretação sem conseguir, condicionando o resultado final do filme.

Avaliação - C+

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