David Cronemberg quase a entrar nos 80 anos ficará sempre na historia como um dos realizadores mais irreverentes e polémicos que se foi mantendo com alguma presença em Hollywood, embora com o tempo os seus filmes tenham perdido algum mediatismo. Este ano surgiu mais uma obra peculiar, estreada em Cannes e com um elenco apelativo, mas que apesar das boas criticas gerais, algo que o realizador foi sempre conseguindo, não entusiasmou. Do ponto de vista comercial os resultados foram aceitaveis para o tipo de cinema em questão embora longe de qualquer explosão.
Sobre o filme podemos dizer que é o tipico filme de Cronemberg, o qual acenta numa boa base teorica e mesmo com muita critica aos dias de hoje e para onde caminhamos, mas que o mesmo transforma num conjunto de atitudes e comportamentos tão estranhos dos seus personagens misturando ao mesmo tempo necessidades e fetiches que acaba por tornar o filme uma confusão de personagens, direçoes e ideias que não faz imperar a critica ou o vaticinio claro que o filme tinha implicito.
Fica a sensação que Cronemberg se perde no seu estilo, tranzendo-nos imagens fortes e acima de tudo algum do fetichismo quase doentio que ja tinha trazido em Crash, tentando implementar na critica social e futurista de Existenz acabando por nao ir a lado nenhum. Fica a ideia que mais que um filme diferente é um filme dificil de transmitir ideias, acabando por desviar a atençao para o lado mais absurdo de algumas sequencias que nem sempre conseguem transportar os espetadores para o lado que o filme quer.
Ou seja um obra estranha, muito no seguimento que o realizador fez na maior parte dos seus filmes. Neste caso existe a noçao que o ponto de futuro e de perigo que Cronemberg queria transmitir na sua teoria de futuro acaba por sua vez por se perder numa divagação sobre a mente humana e sobre as formas de satisfaçao dos impulsos mais basicos, acabando o filme por ficar demasiado complexo para comunicar com o espetador
O filme fala-nos de um futuro onde algumas pessoas sofrem da geração espontanea de orgãos tendo em vista a adaptaçao ao futuro que ai vem, mas que alguns acabam por criar formas de arte na maneira como os remove. Tudo fica mais dificil quando os artistas se vem envolvidos na autopsia de uma criança morta pela mãe e que podera confirmar a base de tudo que acontece.
Em termos de argumento fica a sensação que a hipotese ou a ideia que o realizador quer transmitir e boa, e que o filme poderia funcionar com originalidade. Mas o caminho que Cronemberg quer fazer com a especificidade das suas personagens acaba por ser tão longo que se perde e assim perde-se uma ideia que poderia funcionar num realizador sem tanta especificidade.
Coronemberg sempre gostou de chocar e explorar as sensações do corpo humano, esse sera o maior legado do seu cinema e aqui volta a esse ponto. Explora a dor, o sexo, as marcas, como ja tinha feito no polemico Crash, agora num contexto futurista proximo de existenz, sendo visivel as aproximações aos seus dois filmes. Cronemberg tem uma forma unica de filmas sem que seja a mais proxima do grande publico.
Mortensen foi o ator de Cronemberg nos ultimos anos porque conseguiu personificar todos os pontos que o realizador quer, fruto de uma presença forte e multifacetada do ator. Aqui mais uma vez o ator cumpre o que lhe é pedido, tendo a seu lado o aspeto misterioso de uma Seydoux que parece ter beneficiado mais com o sucesso de Blue is the Warmest Colour.
O melhor - No final ficamos com a ideia que a mensagem de futuro que transmite tem impacto.
o pior - O caminho e muito sinuoso e dificil, e nem sempre o melhor
Avaliação - C-
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